TEXTO EM ATUALIZAÇÃO -----  TEXTO EM ATUALIZAÇÃO

 

Escola Secundária C/3º CEB de Oliveira do Hospital

A região de Oliveira do Hospital, em 1930, não era propriamente uma região de analfabetos. Havia por aí famílias que dada a sua educação e posição social deixaram rasto. Dia a dia contactavam com trabalhadores e caseiros que copiavam modos de falar e de se relacionar.

Por outro lado, a frequência dos actos de culto permitia-lhes escutar doutos oradores sagrados. As nossas paróquias guardam boas recordações de párocos que lhes moldaram o carácter e clarificaram a inteligência em pregações frequentes e bem concorridas. Eram deles as únicas bibliotecas.

Mas não podemos deixar de falar do Mestre-escola que em cada localidade formava e instruía. É certo que nem todos e talvez mesmo a maior parte se matriculava nas aulas, mas quem as frequentava trazia bagagem que chegava. Quem já tenha folheado os livros de Actas das Juntas de Paróquia ou outras, pôde verificar a beleza da escrita, a clareza de ideias e uma caligrafia artística que já hoje não se vê. Onde a pobreza imerecida sobressaía era nos estudos complementares. Aí os senhores pontuavam porque só eles podiam. Quanto aos outros... o não descia tão baixo!

Foi então que aqui e além se acenderam as luzes minúsculas no campo da instrução. Inicialmente com gente que dava explicações e mais tarde com os colégios particulares. Um dos pioneiros na região do Alva foi o santo e saudoso cónego Nogueira, no Piódão. Estudaram e aprenderam com ele os filhos da melhor gente da Beira.

Oliveira do Hospital virá a ser falada como terra de letras graças, precisamente, a um homem que, como tantos outros, tendo frequentado o Seminário de Coimbra, ficou no meio rural a partilhar o seu saber com generosidade e paixão. Refiro-me ao Professor Alexandre Marques Gomes, «o Sr. Gomes», como era mais conhecido, também ele impedido, por falta de meios, de continuar o Curso de Direito em que chegou a matricular-se. Para além de conceituado escrivão, dedicou-se a dar explicações. Em breve se reconheceu que alunos preparados por ele faziam figura no ensino oficial. Mas o Professor Gomes não se ficou por aí. Convidou para seus colaboradores Eugénio Branquinho, Mário Tavares Mendes, a Dr.ª Clara Branquinho e mais tarde João Loff.

No liceu José Falcão, em Coimbra, os alunos de Oliveira do Hospital sobressaíam nos exames. As denúncias não se fizeram esperar. E em 1931 o Professor Gomes era notificado pela Direcção Superior do Ensino Particular, no sentido de fechar o respectivo Curso, considerado de natureza clandestina, por não ter instalações próprias.

Para salvar os alunos inscritos, o responsável pelo Curso de explicações dirigiu-se a Lisboa acompanhado de alguns docentes, onde solicitou audiência ao Dr. Oliveira Guimarães, inspector superior do Ensino Particular. Duas fortes razões foram apontadas pelos professores de Oliveira: os bons resultados alcançados pelos alunos até então e a impossibilidade de eles se deslocarem para os grandes centros por falta de recursos.

O Dr. Oliveira Guimarães permitiu então, a título precário e provisório, o funcionamento do curso de explicações até ao final do ano lectivo. Estava-se nas férias da Páscoa. O professor Gomes abeira-se do Dr. Carlos Rodrigues de Campos, um distinto Oliveirense, professor do ensino oficial em Viseu. Então, de mãos dadas, em perfeita comunhão de ideias lançam-se à construção do Externato a que dão o nome de Brás Garcia de Mascaranhas, por sugestão do Prof. Doutor António de Vasconcelos. No ano lectivo seguinte contam já com setenta alunos inscritos e surge assim devidamente legalizado o Colégio de Brás Garcia de Mascaranhas.

A partir daí, a população escolar não mais deixou de crescer. Vinham alunos de muitas regiões do País, assim como do Ultramar para se matricular em Oliveira do Hospital. O Professor Gomes e o Dr. Carlos Campos, nomeado então director do Colégio, apesar dos parcos recursos financeiros, abalançaram-se a construir um Internato. Em 1937, foi erguido o pavilhão gimnodesportivo. O Brás Garcia era um Colégio onde se trabalhava. Também lhe chamavam o “sanatório” ou a “reclusão”, por albergar, regenerando-os, muitos cábulas vindos do liceu!

Em 1962, com 72 anos de idade, o Professor Gomes afastou-se da actividade escolar. Quatro anos mais tarde o Dr. Carlos Campos tomou idêntica atitude. Mas a obra continuou a prosperar sobre a direcção do Dr. José Mendonça Falcão. É justo destacar outros nomes que cooperaram, com o seu saber e o seu prestígio, no Brás Garcia: Dr. João de Almeida Santos, Dr. Renato de Azevedo Costa, Dr. Oliveira Mano e Dr. João Franco Machado.

Uma nota que não pode ser esquecida é que o Professor Gomes e o Dr. Campos, grandes pedagogos e democratas, não esqueceram uma faixa de alunos que, devido a condições económicas precárias, ficariam por aí sepultados no anonimato. Aqueles que se mostravam mais dotados, embora carenciados, tinham lugar no Colégio, gratuitamente. Por sua vez, esses alunos colaboravam depois nos salões de estudo do Internato, como prefeitos.

O Colégio Brás Garcia alcançou nessa altura prestígio nacional, bem colocado ao lado de outros, como Santo Tirso ou Nun’Álvares, de Tomar. De todo o concelho vinham estudantes; os que podiam utilizavam as carrinhas.

Na época de exames, os alunos ficavam hospedados no Colégio de S.Pedro em Coimbra, graças ao bom relacionamento com o proprietário José Travassos. Os professores, por sua vez, também lá permaneciam para as últimas revisões.

Em 10 de Junho de 1972, com a aprovação de entidades oficiais, um numeroso grupo de antigos alunos do Colégio Brás Garcia de Mascaranhas decidiu promover uma festa de homenagem aos seus fundadores e professores. Era a consagração pública de uma obra de difusão cultural que se manteve sempre viva e pujante em decénios de existência. Do programa que incluiu várias cerimónias, merece destaque uma sessão solene nos Paços do Concelho com entrega de lembranças aos fundadores e o descerramento de uma lápide na Rua do Colégio.

Sinto vaidade de ter pertencido ao grupo de docentes que leccionou no Brás Garcia. E por isso, ficam aqui, ainda, como expressão da nossa admiração e do nosso reconhecimento, estas palavras que têm sido proferidas e sentidas pelos oliveirenses. A memória do Professor Alexandre Gomes e do Dr. Carlos Campos jamais se apagará de todos os alunos, muitos deles ilustres diplomatas, médicos, magistrados, professores e industriais, espalhados pelo país e pelo mundo. Eles são testemunhas qualificadas para declararem que o deserto se tornou fértil.

É, em primeiro lugar pela inteligência, só depois pelas mãos que se há-de moldar uma nova civilização, de acordo com as aspirações e as necessidades da nossa época. Um povo sem cultura é um povo morto. Por isso, honra e louvor a quantos se alistaram na batalha pela Educação. * Artigo gentilmente cedido pelo autor, publicado nos periódicos Arganilia e A Comarca de Arganil.

Por despacho de 2/OUT/73, de Sua Exª o Ministro da Educação Nacional foi criada, ao abrigo das disposições dos Decreto-Leis nºs. 47 587, de 10 de Março de 1967, e 102/73, de 13 de Março, a Secção Liceal na localidade de Oliveira do Hospital, que dependia, administrativa e financeiramente, do Liceu Normal D. João III (actual Escola Secundária de José Falcão), de Coimbra. Em 26 de Maio de 1975, foi publicado no Diário da República, I Série nº 121, o Decreto-lei nº 260-B/75, da mesma data, que criou a Escola Secundária de Oliveira do Hospital.

Como Secção Liceal, iniciou a actividade no ano lectivo de 1973/74, em regime diurno, com o seguinte número de alunos/Cursos:
- Curso Geral dos Liceus:
- 1º ano ....................... 59 alunos
- 2º ano ...................... 41 alunos
- 3º ano ...................... 60 alunos
Total: 160 alunos

- Curso Geral de Administração e Comércio:
- 1º ano ....................... 15 alunos
Total: 15 alunos 15 alunos

Total número de alunos ............................... 175

Meios Materiais e Humanos:
- Ao iniciar a actividade, ocupou as instalações escolares, destinadas ao externato, do antigo Colégio Brás Garcia de Mascarenhas, na Rua do Colégio, em Oliveira do Hospital. Eram 17 (DEZASSETE) os Professores em exercício no ano lectivo de 1973/74.
O número de funcionários era o seguinte:
- Pessoal Administrativo ............................ 1(UM)
- Pessoal Auxiliar ...................................... 3(TRÊS)

No ano lectivo de 1978/79, com a mudança para as instalações actuais, passou a ser leccionado, também, o Curso Complementar (10º ano de escolaridade) nas Áreas de Estudo Científico-Naturais e Humanísticos, com o total de 84 alunos.